Enquanto o Ocidente aumenta a pressão sobre o Irã devido ao seu programa nuclear, os governos árabes, especialmente os pequenos países ricos em petróleo do Golfo Pérsico, estão cada vez mais ansiosos. Mas eles estão preocupados não apenas com a perspectiva de um Irã com armas nucleares, mas também com a ameaça mais imediata de que o Irã possa desestabilizar a região caso o Ocidente pressione demais, segundo diplomatas, analistas regionais e ex-autoridades de governo.
Na quinta-feira, o Irá se reunirá com seis potências mundiais para discutir uma série de questões, naquela que será a primeira negociação direta entre Washington e Teerã desde a revolução iraniana de 1979. O Irã pode parecer entrar nas discussões enfraquecido pela amarga disputa política interna e pela recente revelação de uma segunda instalação nuclear, secreta, perto de Qum.
"Se o Ocidente colocar pressão sobre o Irã, independente das consequências dessa pressão, pressão adicional, pressão crescente, você acha que os iranianos irão retaliar ou ficarão sem tomar atitude, aguardando por seu destino cair sobre suas cabeças?" disse o embaixador Hossam Zaki, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito. "A resposta mais provável é que retaliarão. Onde você acha que eles retaliarão?"
"Eu acho que os Estados do Golfo fazem bem em desenvolver agora estratégias com base na suposição de que o Irã está prestes a se tornar uma potência nuclear", disse Abdul Khaleq Abdullah, um professor de ciência política da Universidade dos Emirados Árabes Unidos. "É um jogo totalmente novo. O Irã agora está forçando todos na região a entrarem em uma corrida armamentista."
O chefe de um proeminente centro de pesquisa em Dubai disse que poderia até mesmo ser melhor se o Ocidente -ou Israel- realizasse um ataque militar contra o Irã, em vez de permitir que ele se transforme em uma potência nuclear. Esse tipo de conversa por parte dos árabes quase não era ouvida antes da revelação da segunda instalação de enriquecimento, e apesar de ainda ser rara, reflete o crescente alarme.
"Israel pode iniciar o ataque, mas não pode sustentá-lo; os Estados Unidos podem iniciar e sustentar", disse Abdulaziz Sager, um empresário saudita e ex-diplomata que é presidente do Centro de Pesquisa do Golfo, nos Emirados Árabes Unidos. "A região pode conviver melhor com uma retaliação limitada por parte do Irã do que viver com uma dissuasão nuclear permanente. Eu defendo a realização do trabalho agora em vez de viver o restante da minha vida com uma hegemonia nuclear na região que o Irã gostaria de impor."
Às vésperas da negociação nuclear, chanceler do Irã faz visita a Washington
Enquanto Estados Unidos e Irã se preparam para negociações críticas sobre o programa nuclear de Teerã, o ministro das relações exteriores iraniano voou para Washington na quarta-feira, para uma visita à embaixada não oficial aqui, a primeira visita aos Estados Unidos de uma autoridade iraniana dessa importância em uma década.
Ahmadinejad mandou o ministro das relações exteriores iraniano voar para Washington
Apesar de não haver planos para algum encontro entre o ministro Manoucher Mottak e qualquer autoridade americana, sua visita em um momento curioso, que foi aprovada pelo governo Obama, pode ajudar a degelar o clima enquanto o governo coloca em teste sua política de engajamento com o Irã.
O Departamento de Estado disse que Mottaki pediu permissão para visitar os funcionários da Seção de Interesses do Irã, um posto avançado diplomático que o Irã mantém dentro da embaixada do Paquistão, já que o país não tem relações com os Estados Unidos. A última vez em que um ministro das relações exteriores iraniano recebeu permissão para uma visita como esta foi no final dos anos 90, durante o governo Clinton.
"É uma coincidência incomum; se é uma coincidência feliz, nós veremos amanhã", disse Philip J. Crowley, um porta-voz do Departamento de Estado. "Isso não torna mais fáceis as questões sérias que estamos confrontando, mas se for considerado um pequeno gesto e contribuir de alguma forma, isso será excelente.
"Com o aumento das tensões em torno das ambições nucleares do Irã, diplomatas se reunirão em Genebra na quinta-feira, em uma propriedade isolada do século 18. Nestas discussões, os Estados Unidos e cinco outros países pretendem pressionar o Irã a dar passos "práticos, palpáveis" para demonstrar sua disposição de negociar, disse um alto funcionário americano.
Entre eles estariam o "acesso pleno e desimpedido" dos inspetores à instalação de enriquecimento de urânio do Irã perto da cidade de Qum, que os Estados Unidos e seus aliados tornaram pública em um anúncio dramático na última sexta-feira.
"O que precisamos ver agora são ações, não apenas palavras", disse um alto funcionário, que insistiu no anonimato porque não queria falar publicamente antes da reunião. "Isso precisa ser o início do que os iranianos terão que fazer para deixar às claras todo seu programa nuclear.
"Os Estados Unidos, que estarão acompanhados à mesa pelo Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China, provavelmente oferecerão ao Irã uma versão reempacotada de algo que já ofereceram antes: um acordo para congelar novas sanções caso os iranianos concordem em congelar seu enriquecimento de urânio.
A proposta, conhecida nos círculos diplomáticos como "congelamento pelo congelamento", não interessou aos iranianos antes. Mas as autoridades planejam tentar de novo, na esperança de que um novo governo americano, a pressão da revelação do complexo de enriquecimento nuclear e as divisões internas resultantes da caótica eleição iraniana o tornem mais aceitável, disseram funcionários americanos e europeus.
"A meta é tentar tornar impossível para que digam não", disse um diplomata europeu.
França e Rússia, disseram as autoridades, provavelmente colocarão na mesa uma proposta familiar: um plano para fornecer combustível nuclear ao Irã, que poderia ser usado em seus reatores nucleares, sob monitoramento internacional.
Esse acordo, que seria policiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), daria ao Irã uma fonte garantida de urânio enriquecido para suas necessidades civis de energia, mas removeria o medo de que o Irã possa enriquecer o urânio para o grau necessário para uma bomba nuclear.
Por sua vez, disseram as autoridades e especialistas, o Irã provavelmente apresentará uma agenda restrita para seu programa nuclear, mas uma série de outros assuntos, incluindo uma reforma da ONU, dando uma maior voz aos países não-ocidentais, e um desarmamento nuclear universal. Ele os esboçou em uma proposta de cinco páginas no início de setembro, que foi recebida com escárnio por funcionários do governo Obama.
O Irã também provavelmente argumentará que não está legalmente obrigado a revelar sua segunda instalação de enriquecimento, aquela cuja existência se tornou pública na semana passada. Esse argumento se baseará em seu "acordo de salvaguardas" com a agência atômica, que dizia originalmente que o Irã não era obrigado a revelar a instalação até 180 dias antes de colocar combustível nuclear nela.
O acordo foi posteriormente modificado para obrigar o Irã a revelar tão logo decidisse construir o complexo. As autoridades iranianas argumentam que seu Parlamento nunca ratificou a modificação -um argumentou que o diretor-geral da agência de energia atômica, Mohamed ElBaradei, rejeitou.
"Eles estão no lado errado da lei", disse ElBaradei, que normalmente é circunspeto.
Os Estados Unidos serão representados pelo subsecretário de Estado para assuntos políticos, William J. Burns, e o Irã pelo seu negociador chefe nuclear, Saeed Jalili. O par direto de Jalili é Javier Solana, o chefe da diplomacia da União Europeia, que será o anfitrião da reunião.
Burns, um diplomata de carreira discreto e com uma longa história no Oriente Médio, participou de uma reunião semelhante com o Irã em julho de 2008, durante a fase final do governo Bush. Apesar de sua presença ter sido considerada um gesto, ele foi instruído a não negociar e falou pouco.
A televisão iraniana noticiou na segunda-feira (28) que o país testou mísseis de longo alcance Shahab-3. Os foguetes têm alcance de cerca de 2.000 quilômetros, podendo atingir, em tese, Israel e bases americanas no Oriente Médio
A televisão iraniana noticiou na segunda-feira (28) que o país testou mísseis de longo alcance Shahab-3. Os foguetes têm alcance de cerca de 2.000 quilômetros, podendo atingir, em tese, Israel e bases americanas no Oriente Médio
Na quinta-feira, Burns será um participante pleno, disseram funcionários, e eles sugeriram fortemente que as negociações poderiam incluir um encontro individual paralelo entre Burns e Jalili.
Jalili disse estar a caminho das negociações com um "abordagem positiva", enquanto o chefe de energia atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, disse que o Irã está pronto para discutir as preocupações com sua nova instalação de enriquecimento.
Ele disse que o Irã oferecerá em breve um prazo para inspeção do complexo de Qum e que o Irã tentaria "resolver a questão tanto política quanto tecnicamente", ao engajar com os seis países em Genebra e com a agência de energia atômica. Mas o Irã insistirá em seu direito de enriquecer urânio, ele disse.
"Nós não discutiremos nossos direitos" de enriquecer urânio, ele disse na terça-feira em Teerã.
"Mas estamos prontos para discutir a respeito de desarmamento nuclear e não-proliferação.
"Em Washington, os diplomatas comentavam a respeito da visita de Mottaki. Ele passou a tarde de quarta-feira na Seção de Interesses, um escritório sem identificação próximo de Georgetown.
Do lado de fora estavam equipes de televisão do Oriente Médio, seguranças diplomáticos em utilitários esporte pretos e dois agentes federais trajando camuflagem para deserto e armados com M16s. Um funcionário negou o pedido de entrada de um repórter.
Alguns especialistas em Irã disseram que a visita foi um golpe para o governo de credibilidade contestada do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Mas temiam que os Estados Unidos poderiam enviar a mensagem errada ao povo iraniano.
"Na cultura política conspiratória do Irã, isso será visto por muitas pessoas como um esforço americano para 'fechar um acordo' com o regime às suas custas", disse Karim Sadjadpour, um membro do Fundo Carnegie para a Paz Internacional.
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