COLAPSO DA ECONOMIA, CALOTE E FIM DO EURO

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O maior perigo isolado que se apresenta agora na crise da zona do euro é que os acontecimentos estão avançando rapidamente demais para a complacente liderança política da Europa. Na semana passada a crise chegou à Itália. E a União Europeia olhou para o outro lado.

Foi um erro enorme adiar uma cúpula de emergência da UE (União Europeia) para a quinta-feira desta semana. O Conselho Europeu já deveria ter dobrado ou triplicado o tamanho do EFSF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira), o fundo abrangente de resgate. Deveria tê-lo flexibilizado, permitindo que comprasse obrigações nos mercados secundários. O conselho deveria ter forçado o encerramento da discussão sobre como lidar com investidores privados, que compraram obrigações soberanas gregas.

Em lugar disso, o conselho permitiu que seus ministros financeiros se atolassem em detalhes técnicos entediantes, sem conseguirem tomar uma decisão. Angela Merkel disse que não havia necessidade de uma cúpula imediata. A chanceler alemã fez o que ela vem fazendo ao longo da crise: escondeu-se por trás dos procedimentos oficiais. E, como o teste de estresse dos bancos na sexta-feira passada não passou de mais um exercício cínico de opacidade, o conselho precisará tomar os primeiros passos para resolver a confusão dos bancos ao nível da zona do euro. Ele não o fará. A crise está avançando rápido demais. Dentro de algumas semanas, a necessidade impôs a passagem do plano A para o plano B e depois para o plano C. O plano A era a austeridade. O plano B reconhece a necessidade de alívio da dívida, através de alguma combinação de uma transferência fiscal e uma contribuição por parte dos detentores de obrigações. O plano C prevê a ampliação da proteção dada pelo EFSF de modo a poder proteger a Espanha e a Itália.

A Europa ainda está reclamando e fazendo estardalhaço sobre o plano B, e a Alemanha exclui o plano C. A esperança dos líderes é que o plano B torne desnecessário o plano C. Isso poderia ter sido o caso algumas semanas atrás. Mas por que uma decisão de infligir perdas aos bancos ajudaria o sentimento do mercado em relação à Itália, agora?

É difícil compreender porque os mercados decidiram entrar em pânico em relação à Itália neste momento particular. Houve um gatilho, é claro, mas os problemas da Itália não são novos. O país precisa crescer 2%-3% ao ano no longo prazo para poder permanecer na zona do euro. Ou, então, precisa reduzir suas taxas de juros. Os mercados compreendem que a política italiana dificulta a primeira opção, enquanto a política alemã dificulta a segunda. Se aceitamos as restrições impostas pelo pertencimento à zona do euro, o baixo crescimento da produtividade e os juros altos como elementos dados, a Itália está insolvente. Uma dessas restrições terá que ceder.

Cinco anos atrás eu estive entre os que argumentaram que a probabilidade de um colapso da zona do euro era praticamente zero. No ano passado eu escrevi que ela não era mais trivial, mas ainda era pequena. Desde então a probabilidade de isso acontecer vem aumentando constantemente, não devido à própria crise, mas devido à resposta política a ela. Hoje eu avaliaria em 50% a chance de uma fragmentação da zona do euro. Isso, não porque eu ponha em dúvida a promessa do Conselho da Europa de fazer o que for preciso para salvar o euro, mas porque receio que ele tenha esperado até ser tarde demais para agir. O conselho pode estar disposto a agir, mas não vai conseguir cumprir o que prometeu. Como argumentei na semana passada, um título da zona do euro será a única solução para a crise. Mas esta opção vai ficando progressivamente mais cara, e, politicamente falando, menos realista, a partir do momento em que aumenta o "spread" (a diferença entre o preço de compra e venda) dos títulos de países grandes.

A liderança política da Europa vem cometendo e continua a cometer um erro de categoria em sua abordagem à crise. Esta não é uma crise de um país pequeno na periferia da zona do euro. Tampouco é uma crise provocada pelas agências de classificação ou por especuladores. É uma crise sistêmica de uma união monetária que se recusa a ser uma união fiscal.

Ouço com frequência que Angela Merkel, em especial, já avançou muito em relação a sua posição original, 18 meses atrás, quando ela excluiu a possibilidade de qualquer ajuda à Grécia. Mas hoje a crise está avançando em um ritmo que supera o limite de velocidade política da chanceler alemã.

Na semana passada Giulio Tremonti, o ministro das Finanças italiano, comparou Merkel a uma passageira de primeira classe do Titanic. A indignação dele é compreensível. Hoje a própria reação flegmática de Merkel se tornou um dos fatores a intensificar esta crise financeira, e as pessoas a culparão, com razão, por qualquer acidente sério.

O conselho que ofereço a Tremonti é confrontar Merkel. Seu governo deveria agora adotar uma estratégia de duas frentes. A primeira parte é o que eu chamaria de "plano D". Trata-se de um plano de emergência a ser tirado da gaveta se Merkel, como Martinho Lutero, continuar a dizer que "não pode fazer outra coisa".

"D" simboliza desvalorização ou calote ("default"). Que fique claro: não estou afirmando que a Itália deveria sair da zona do euro. Estou dizendo que a Itália deveria se preparar para essa eventualidade. Em especial, a Itália deveria assinalar a Merkel que só poderá continuar como membro da zona do euro se suas taxas de juros forem reduzidas. E tenho dificuldade em visualizar como qualquer outra coisa que não seja uma obrigação da zona do euro será capaz de conseguir isso.

Não importa o que venha a acontecer, a Itália também precisará de um programa acreditável para fazer sua produtividade crescer no longo prazo.

O plano D provavelmente assinalaria o fim da União Europeia tal como a conhecemos. Desconfio que nem mesmo Angela Merkel vai querer ir tão longe assim. A procrastinação levará ao colapso.

A UE tem escolhas importantes a fazer nos próximos dias.

FOLHA

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