Tony Blair: sociedade precisa deixar espaço para fé

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Ex-primeiro-ministro revela detalhes de sua conversão no Meeting de Rímini



RÍMINI, quinta-feira, 27 de agosto de 2009 (ZENIT.org).- O ex-primeiro-ministro da Grã Bretanha Tony Blair considera que “uma sociedade, para ser harmoniosa, tem de deixar espaço para a fé”.

Ao intervir nesta quinta-feira ante 15 mil pessoas no “Meeting pela amizade entre os povos”, organizado pelo movimento eclesial Comunhão e Libertação na cidade costeira italiana de Rímini, ele revelou aspectos de sua conversão ao catolicismo.

De fato, confessou, quando “se preparava para entrar na Igreja Católica, tinha a sensação de que estava voltando para casa”.

Esta conversão, acrescentou, foi facilitada por sua mulher, que percebeu que a Igreja Católica era sua casa não só “pela doutrina ou o magistério, mas por sua natureza universal”.

O fundador da “Faith Fondation” citou ao longo de sua intervenção em várias ocasiões a recente encíclica Caritas in veritate de Bento XVI e assegurou que “vale a pena ser lida e relida, é um contra-ataque ao relativismo”.

Sublinhou desta forma a mensagem da encíclica, em que se afirma que sem Deus o homem não saberia para onde ir, por considerar que é de vital importância para um mundo globalizado como o de hoje.

Sublinhou que um mundo globalizado, para que não se deixe dominar pelo poder, tem de ter uma força de contrapeso que busque o bem comum.

Neste sentido, explicou que a Igreja, que é um modelo de instituição global, tem de entrar em jogo para enfrentar os problemas propostos pela globalização.

Com respeito aos desafios de uma sociedade multicultural, reconheceu que a globalização nos faz encontrar com mais pessoas, mas é necessário manter nossa identidade característica.

É necessário “respeitar as raízes judaico-cristãs dos países da Europa. Também se deve pedir respeito à identidade de nossos países, formada ao longo de milênios”.

Segundo Blair, com frequência a religião é vista como fonte de conflito, mas temos de demonstrar que a fé se empenha em construir a justiça”.

“Deste modo, mostraremos o verdadeiro rosto de Deus, que é amor e compaixão”, declarou.

“A fé não é uma forma de superstição, mas a salvação para o homem. Não é uma fuga da vida. A fé e a razão estão aliadas, nunca em oposição. Fé e razão se dão apoio, se reforçam, não competem. Por isso a voz da Igreja é escutada, a voz da fé sempre deve ser escutada. Essa é a nossa missão para o século XXI”.

Também fez referência à questão do processo de paz no Oriente Médio e assegurou que “Israel deve ter garantida sua segurança e os palestinos devem poder contar com um Estado independente”.

Concluiu sua intervenção afirmando que “seria um grande sinal de reconciliação e esperança se a Terra Santa fosse um lugar de reconciliação e de paz”.

Tony Blair mostra papel único da religião para desenvolvimento

Em uma entrevista concedida ao L’Osservatore Romano

ROMA, terça-feira, 15 de setembro de 2009 (ZENIT.org).- Em uma entrevista publicada na edição italiana desta terça-feira pelo jornal vaticano L'Osservatore Romano, o antigo primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, convertido recentemente ao catolicismo, afirma que "a religião tem um papel central e único na sociedade e em seu desenvolvimento".

Na entrevista, Blair conta como nasceu sua decisão de converter-se ao catolicismo.
"Minha viagem espiritual - explica - iniciou quando comecei a ir à Missa com a minha esposa. Depois, decidimos batizar nossos filhos na fé católica. É um caminho que se prolongou durante 25 anos, talvez mais. Com o tempo, emotivamente, intelectual e racionalmente, pareceu-me que a católica era a casa adequada para mim. Quando deixei o cargo político e já não tinha todo o contexto ligado a ser primeiro-ministro, foi algo que quis fazer de verdade."

Com relação ao significado da religião em seu casamento com Cherie Booth, católica praticante, Blair explica que "a religião foi algo que nos aproximou. Não nos conhecemos por causa da religião, mas foi muito interessante descobrir que minha futura esposa era muito ativa na organização estudantil católica e em outras organizações juvenis. Para jovens de 23, 24 anos, como quando nos conhecemos, era inusual descobrir esse interesse pela religião".

No referente às figuras que influenciaram em sua conversão, recorda sua participação em uma missa na capela privada de João Paulo II: "É uma lembrança ainda muito viva, um episódio que me impressionou muito. Claro, muito provavelmente eu teria chegado à conversão de qualquer forma, mas sem dúvida foi uma etapa importante que depois reforçou minha decisão".

"Uma das coisas que mais me atrai da Igreja Católica é sua natureza universal - reconhece. Se você é católico, pode ir aonde for e participar da Missa. Eu fui à Missa em Kigali, Pequim, Singapura... O fato de que, onde quer que você esteja, vai estar em comunhão com os demais, é verdadeiramente formidável. A Igreja universal é, em si, um importante modelo de instituição global".

O político britânico está dedicado a impulsionar uma fundação para o diálogo entre as religiões, a Tony Blair Faith Foundation, que realiza suas atividades de maneira particular na África e no Oriente Médio.

Sobre se ser católico é uma vantagem ou não em sua atividade no Oriente Médio, Blair responde: "Honestamente, nunca considerei isso um problema. Nunca. Pelo contrário, penso frequentemente que, no mundo moderno, o fato de ser uma pessoa de fé incrementa a capacidade de contato com pessoas de outro credo. É verdade, às vezes também acontece o contrário, encontra-se forte oposição. Mas dado que hoje fatores de secularização submetem a fé a um duro e agressivo ataque, no final o que acontece é que pessoas de credos diferentes às vezes se aliam".

Blair sublinhou de maneira particular a frase da encíclica Caritas in veritate em que o Papa escreve que "a religião cristã e as outras religiões só podem dar o seu contributo para o desenvolvimento, se Deus encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política" (n. 56).

"Pessoalmente, compartilho totalmente o que o Papa escreve na encíclica, um texto brilhante que deve ser lido e relido. Considero que a religião tem um papel central, único na sociedade e para o seu desenvolvimento."

"Pensemos, por exemplo, na forma como utilizamos a tecnologia - sugere. Mas é também verdade que há um conflito, porque muitas pessoas querem manter a religião fora da esfera pública."

"Sustentar, como eu faço, que a religião tem um papel importante, não significa considerar que acabarão os debates e os enfrentamentos. Estes, ao contrário, continuarão, sobre muitos temas com relação aos quais, provavelmente, a Igreja estará de um lado e os líderes políticos, de outro."

"Mas não acho que este seja o ponto principal: o ponto é que a fé tem pleno direito de entrar neste espaço e de falar. Não deve calar - insiste. A voz da fé não deve estar ausente do debate público; pensemos em temas como a justiça e a solidariedade entre os povos e nações."

Em sua encíclica, o Papa escreve que "querer o bem comum e dedicar-se a ele é exigência de justiça e de caridade" (n. 7).

Sobre isso, Blair está de acordo: "Penso que um líder político está sujeito a alguns vínculos e deve trabalhar para recolher votos. Porque esta é a democracia. Mas é precisamente aqui que a fé tem um papel único".

"A Igreja Católica segue a verdade de Deus e creio que o Papa se empenha muito em tentar nos fazer compreender que esta é uma obrigação cristã."

"Sim, às vezes isso pode entrar em conflito com o mundo político e eu experimentei isso como líder político. E, no entanto, é muito importante que esteja aí o aspecto religioso: não é por acaso que o Papa escreve que um humanismo sem Deus é inumano. Acho que, com isso, ele entende que as ações humanas e a razão humana são sempre limitadas quando não imbuídas pela fé. Às vezes, podem ser inclusive perigosas."

À afirmação de que dificilmente se poderá realizar a política que o Papa traça na encíclica, Blair responde: "As pessoas frequentemente entendem mal a política. A política é a interação entre idealismo e realismo: normalmente não é o triunfo de um sobre o outro".

"Quando, em 2005, decidimos colocar a pobreza na África no centro do G8 em Gleneagles, isso foi fortemente apoiado pela Igreja Católica e por João Paulo II. E foi crucial. Criam-se difíceis nós políticos quando se deve decidir quanto dinheiro se dará, ou se devemos fazer mais, se isso é possível. São nós que podem levar também a fortes enfrentamentos."

"Mas o fato de que se fale disso, e que a posição seja fortemente apoiada pela Igreja, pode efetivamente ajudar o político a fazer a escolha justa. É verdade, não elimina o problema, mas ajuda."

"Quando eu disse aos ingleses que devíamos incrementar substancialmente nossa ajuda à África, ajudou-me muitíssimo que a Igreja tivesse dito publicamente que era a decisão justa, que era algo moralmente bom. Isso não elimina que haja sempre quem critique o fato de usar nosso dinheiro para ajudar pessoas diferentes de nós."

O que Tony Blair pensa do papel dos pais e como vê o futuro da paternidade no mundo de hoje?

"Em primeiro lugar - responde -, penso que a paternidade é um papel a ser enfrentado com responsabilidade e sem arrogância. Por mais bondoso e inteligente que eu me achasse, sempre considerei que ser pai era algo muito difícil. E ainda penso dessa forma."

"Em segundo lugar - acrescenta -, considero que o pai também é uma figura crucial na família, que também ele é fundamental para o crescimento e a formação da criança".

"Em terceiro lugar, penso que, em certos aspectos, está se recuperando a ideia de família. Também neste campo considero que as comunidades religiosas e a Igreja têm um papel a desempenhar. É verdade, as famílias têm seus problemas, elas se desfazem, algo que temo que continuará acontecendo. Mas sempre pensei que as indicações da Igreja em matéria de família são úteis."

"Que fique claro: fazer um casamento funcionar exige empenho. E penso que a paternidade também exige isso. Mas acredito realmente que, entre as grandes transformações que estão acontecendo no âmbito social, é necessário descobrir que a paternidade é uma responsabilidade e uma necessidade."

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