Barril de Polvora - Manifestações tomam conta de países do mundo árabe

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Os protestos no mundo árabe visam instalar uma verdadeira democracia, com eleições que levem realmente em consideração a vontade da maioria. Os países da região são conhecidos pela falta de liberdade de imprensa e pensamento e por governantes que se perpetuam no poder.

Os egípcios, por exemplo, se mostram cansados de corrupção. Eles querem a saída imediata do ditador Hosni Mubarak, ex-comandante das Forças Aéreas do país, que está há três décadas no poder. A extrema pobreza faz com que as reivindicações por mudanças sejam maiores. Cerca de 40% dos egípcios são obrigados a viver com menos de US$ 2 por dia. O desemprego está em nível assustador, muito acima do encontrado em países emergentes que passam por um bom momento.

Não se sabe até onde essa indignação vai parar. "As massas árabes estão frustradas e zangadas, em toda parte", disse o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, ao jornalista da Folha Clóvis Rossi, deixando claro que o incômodo não se restringe a somente alguns países.

Seja como for, o mundo espera que as reformas, caso realmente ocorram e onde venham a ocorrer, resultem em avanços para todas as pessoas que por lá vivem.

LÍBANO

O Hizbollah e seus aliados deixaram o governo de coalizão do ex-premiê Saad al Hariri em 12 de janeiro pela resistência dele em desautorizar o tribunal da ONU que deve indiciar integrantes da milícia xiita por atentado que matou, em fevereiro de 2005, seu pai, o ex-premiê Rafik Hariri.

Sem força, com a imagem desgastada, Saad Hariri renunciou à negociação para formar um governo de união nacional. Ele anunciou a sua decisão aos meios de comunicação depois de se reunir com o presidente, Michel Suleiman.

Bilal Hussein/AP

Manifestantes apoiam transformações políticas ocorridas nos países da região em Beirute, capital do Líbano

Suleiman abriu consultas ao Parlamento para que seja designado novo premiê ou para que Hariri receba novo mandato.

A nomeação de Najib Mikati é percebida como uma vitória do Hizbollah. Os muçulmanos sunitas leais ao ex-premiê Hariri -- que conta com o apoio do Ocidente e da Arábia Saudita-- protagonizaram um "dia de fúria" para protestar contra a indicação do bilionário sunita Mikati, parlamentar de centro com laços tanto na Arábia Saudita como na Síria.

Mikati ocupou o cargo de premiê durante três meses em 2005, logo após a morte de Hafik Hariri. Foi nesse período que a Síria --aliada do grupo xiita e também acusada pelo assassinato do então premiê-- encerrou sua presença militar no Líbano.

Mikati enfatizou nesta segunda-feira que vai representar todo o Líbano, mesmo tendo insistido que protegerá "as realizações da resistência nacional" -- uma referência ao Hizbollah.

"Não faço distinções entre ninguém", afirmou ele, formado na Universidade Harvard (EUA) e um empresário com fortuna estimada em US$ 2,5 bilhões. "Ofereço minha mão a todos sem exceção. [...] Digo ao premiê Saad Hariri: vamos todos trabalhar juntos pelo bem do Líbano."

É significativo o Hizbollah ter escolhido um candidato centrista, mesmo que o grupo tenha conseguido poder suficiente para governar sozinho. A ação indica que o Hizbollah está pelo menos levando em consideração a ideia de que um governo de unidade pode ser formado.

O vice-premiê de Israel, Silvan Shalom, já tinha dito que havia um perigo de que um "governo iraniano" se estabelecesse no Líbano. Ele afirmou que o Hizbollah "pode não mais ser um simples grupo terrorista operando com apoio do Irã, mas um grupo terrorista no controle do país".

TUNÍSIA

Em um dos dias de protestos mais intensos que resultaram na queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali, ao menos 5.000 tunisianos estiveram no lado de fora do Ministério do Interior da Tunísia, na capital Túnis. A declaração de Ben Ali na véspera de que não concorreria à quinta reeleição em 2014 não acalmou os ânimos.

A multidão gritava frases como "Ben Ali, saia!" e "Ben Ali, obrigada, mas já é o suficiente" diante do prédio do ministério, após marchar pelas principais avenidas da cidade. Outros usavam, em meio ao hino nacional, termos mais pesados como "Ben Ali assassino".

Christophe Ena/AP

Jovem tunisiano protesta contra a presença no poder dos partidários do ex-ditador Ben Ali

A polícia permaneceu apenas observando os jovens pendurados sobre postes de luz, lotando os telhados das casas e as principais ruas da capital. Um policial antidistúrbios chegou a dar um sinal de positivo com o dedão para um manifestante que carregava uma placa com lemas antigoverno.

O resultado de tanta insatisfação foi a queda de Ben Ali. Ele deixou a Presidência e o país no dia 14 de janeiro, após mais de um mês de protestos populares contra a pobreza, o desemprego e a corrupção.

O governo de transição da Tunísia, comandado pelo primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, anunciou a troca de 12 ministros para tentar conter os protestos contra a participação de ex-integrantes do regime de Zine Abidine Ben Ali, derrubado no dia 14 de janeiro depois de 23 anos no poder.

"Este governo é interino e vai continuar até completar sua missão de levar o país à democracia", disse Ghannouchi na TV, em discurso para anunciar a mudança.

O primeiro-ministro interino da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, prometeu abandonar a política após as eleições. A declaração foi dada em entrevista a uma emissora tunisiana.

Aliado-chave do ex-ditador Ben Ali, Ghannouchi ainda tenta convencer os manifestantes de que as mudanças no país são concretas. Junto ao governo de transição, o premiê anunciou eleições livres para o país dentro de seis meses, mas a data permanece indefinida.

Ghannouchi se desvinculou do partido do ditador, afirmando que o governo interino precisa de "mãos limpas". Contudo, o premiê também frisou a importância de políticos experientes para a transição.

IÊMEN

Dezenas de milhares de pessoas convocadas pelos principais partidos da oposição iemenita se concentraram, na última quinta-feira (27), em quatro pontos da capital Sanaa para pedir que o presidente (na verdade, ditador) do país, Ali Abdullah Saleh, desista de uma nova reeleição.

Abdullah Saleh está no poder desde 1990. São mais de vinte anos sem alternância.

Khaled Abdullah/Reuters

Ativista manifesta contra o governo do Iêmen na capital do país

"Não à reeleição", diziam os cerca de dez mil participantes de uma das quatro concentrações, realizada perto da Universidade do Iêmen, no centro de Sanaa, como constatou a agência de notícias Efe.

Os manifestantes foram convocados pelo comitê conjunto da oposição, que reúne seis formações lideradas pelo Partido da Reforma Islâmica e que engloba também vários partidos laicos, como o Partido Socialista e o Partido Baath.

JORDÂNIA

Milhares de jordanianos, mais de 3.000 pessoas, saíram às ruas após as orações muçulmanas de sexta-feira para pedir ao rei Abdullah 2º a destituição do primeiro-ministro, Samir Rifai, e a adoção de reformas econômicas e políticas.

"Saudações ao povo egípcio, nossa nação se inspira em vocês" e "Ben Ali (ditador da Tunísia expulso pelos manifestantes do país), cuidado, Hosni Mubarak vai se unir a você" eram palavras ditas em voz alta pelos manifestantes que carregavam bandeiras da Jordânia.

Os cidadãos se manifestaram pela terceira semana consecutiva nas ruas da capital, Amã, e nas cidades de Irbid, Zarqa, Ajlun, Mafrak, Karnak e Ácaba.

Os partidos islâmicos na oposição, os sindicatos, a sociedade civil e os grupos de ativistas convocaram e lideraram os protestos.

Os participantes levantaram cartazes e gritaram palavras de ordem pedindo ao rei Abdullah 2º que destitua o governo de Rifai porque, segundo os manifestantes, o primeiro-ministro fracassou em sua tentativa de satisfazer as exigências dos cidadãos jordanianos.

Também exigiram a dissolução do Parlamento, que elegeu recentemente Rifai por um grande maioria, e pediram a formação de um governo de transição que convoque novas eleições.

EGITO

Os egípcios, a exemplo dos povos vizinhos, pedem a renúncia do ditador Hosni Mubarak em uma série de protestos realizados em todo o país, com destaque para as cidades de Alexandria, Suez e Cairo, a capital do país.

Felipe Trueba/Efe

Manifestantes chegam ao coração do Cairo, a capital do Egito, com o objetivo de protestar contra Mubarak

Até agora, conseguiram a renúncia oficial dos ministros que integram o governo egípcio. "Pedi ao governo para renunciar e formarei um novo governo", afirmou o ditador no pronunciamento transmitido pela TV. Mas o grande objetivo, como se sabe, é a saída de Mubarak.

No sétimo dia de protestos na nação mais populosa do mundo árabe, milhares de manifestantes se reuniram na praça Tahir, no Centro do Cairo, gritando: "Saia. Queremos você fora", além de cantar o hino nacional egípcio.

Soldados presentes no local olhavam os manifestantes, mas não faziam nada.

Os protestos começaram na semana passada motivados pela frustração com a repressão, corrupção e a falta de democracia sob os 30 anos de governo de Mubarak.

Mais de cem pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança em episódios que mudaram a imagem do Egito como sendo um país estável, com um mercado emergente promissor e um destino turístico atrativo.

Fonte:Folha.com

Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina.

0 comentários: