Investidor divergente prevê crash econômico na China e suspeita de bolha imobiliária

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010


James S. Chanos construiu uma das maiores fortunas em Wall Street prevendo o colapso da Enron e de outras empresas altamente valorizadas, cujas histórias eram boas demais para ser verdade.

Agora Chanos, um rico investidor de fundo hedge, está trabalhando para acabar com o mito do maior conglomerado de todos: a China.

James S. Chanos construiu uma das maiores fortunas em Wall Street prevendo o colapso da Enron e de outras empresas altamente valorizadas, cujas histórias eram boas demais para ser verdade.

Agora Chanos, um rico investidor de fundo hedge, está trabalhando para acabar com o mito do maior conglomerado de todos: a China

"Eu considero interessante que pessoas que nem sabiam soletrar China há 10 anos agora são especialistas em China", disse Jim Rogers, que co-fundou o Fundo Quantum com George Soros e atualmente vive em Cingapura. "A China não está em uma bolha."

Os colegas reconhecem que Chanos começou a estudar a economia da China apenas em meados do ano passado e enviou e-mails pedindo a opinião de especialistas.

Mas ele está acompanhado daqueles que veem uma crescente evidência de que o pacote de estímulo da China e os empréstimos bancários agressivos estão criando uma demanda artificial, aumentando o risco de uma onda de empréstimos inadimplentes.

"Na China, ele parece enxergar os excessos nos quais tem apostado contra ao longo de todas estas décadas", disse Jim Grant, um velho amigo e editor da "Grant's Interest Rate Observer", que também prevê uma queda da China. "Ele se concentra nos excessos dos mercados e lucra com eles. Esse é o seu talento e ofício."

Chanos se recusou a ser entrevistado, citando sua contínua pesquisa a respeito da China. Mas ele já está espalhando a visão de que o milagre chinês está cegando os investidores para o risco de que o país está produzindo demais.

"Os chineses correm o risco de produzirem grandes quantidades de bens e produtos que serão incapazes de vender", ele alertou em uma entrevista para a Politico.com, em novembro.

Em dezembro, ele apareceu na "CNBC" para discutir como começou a assumir posições vendidas, na esperança de lucrar com o colapso da China.

Nos últimos meses, um crescente número de analistas, e algumas autoridades chinesas, também têm alertado sobre a ameaça do surgimento de bolhas de ativos na China.

O imenso programa de estímulo do país e o empréstimo bancário recorde, cuja estimativa é de ter dobrado no ano passado em relação a 2008, injetou bilhões de dólares na economia, retomando o crescimento.

Mas muitos analistas agora dizem que o dinheiro, juntamente com o imenso afluxo de "capital especulativo", foi canalizado para os mercados de ação e imobiliário.

O resultado, eles dizem, tem sido alta de preços e uma retomada do boom de construção que estava em andamento no início de 2008 -um que Chanos e outros chamaram de perdulário e exagerado.

"Ocorrerá um colapso", disse Gordon G. Chang, cujo livro, "The Coming Collapse of China" (Random House), alertou sobre esse crash em 2001.

Amigos e colegas dizem que Chanos está à vontade apostando contra a maioria -mesmo quando essa maioria inclui pessoas como Warren E. Buffett e Wilbur L. Ross Jr., duas figuras imponentes do mundo do investimento.

Um divergente por natureza, Chanos pesquisa as empresas, analisa meticulosamente os relatórios públicos de prestação de contas em busca de pistas de contabilidade fraudulenta ou enganosa e então decide se uma ação está sobrevalorizada e pronta para cair. Ele conta com um quadro de 26 funcionários em escritórios em Nova York e Londres, em busca de outras informações relacionadas à China.

"O retrospecto dele é impressionante", disse Byron R. Wien, vice-presidente da Blackstone Advisory Services. "Ele não é um charlatão. E sou uma pessoa que espera alta na China."

Chanos cresceu em Milwaukee, um dos três filhos dos proprietários de uma rede de lavanderias. Em Yale, ele estudou medicina antes de trocá-la por economia, devido ao que descreveu como um interesse apaixonado pela forma como os mercados operam.

Sua filosofia-guia foi descoberta em um livro chamado "The Contrarian Investor", segundo um relato de sua vida em "The Smartest Guys in the Room", um livro que narrou a ascenção e queda da Enron.

Após a faculdade, ele foi para Wall Street, onde trabalhou em uma série de corretoras até abrir sua própria firma, em 1985, devido ao que disse posteriormente ser sua frustração com a forma como os corretores de Wall Street promoviam as ações.

Na Kynikos Associates, ele criou uma firma voltada a apostar na queda dos preços das ações. Suas teorias são resumidas no depoimento que deu ao Comitê de Energia e Comércio da Câmara, em 2002, após o colapso da Enron. Sua firma, ele disse, procura por empresas que parecem exagerar seus lucros, como a Enron; que são vítimas de um plano de negócios falho, como muitas empresas de Internet; ou que praticam "fraude descarada".

O fato de short-sellers serem mal-vistos por alguns em Wall Street, assim como na economia em geral, há muito o incomoda.

Os short-sellers foram acusados de terem intensificado as vendas de ações no final de 2008, antes da prática ter sido temporariamente proibida. Os reguladores agora estão tentando decidir se restringem a prática.

Chanos frequentemente responde aos críticos do short-selling apontando o papel crítico que os short-sellers exerceram na identificação dos problemas na Enron, Boston Market e outros "desastres financeiros" ao longo dos anos.

"Eles frequentemente são aqueles que usam chapéus brancos quando se trata de procurar e identificar os bandidos", ele disse.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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